domingo, 6 de maio de 2012
Um café com tempo para o amor
O São Pedro parecia determinado a adiar mais um café, entre mim e a mulher com quem tenho conversado ultimamente. Desculpou-se inicialmente porque não tinha o cabelo arranjado, que se sentia horrível ao ver o seu cabelo reflectido no espelho do quarto. Durante dias, depois meses fomos conversando sobre tudo o que nos vinha à cabeça, depois sobre o que queríamos ser em adultos, os anos passaram e eu concretizei o sonho de menino, dar a volta ao mundo em oitenta dias... Ela fora como passageira, eu um simples comissário de bordo. Aproximei-me com um tímido sorriso e disse:
- Bem-vinda! Estarei disponível para o que precisar.
Sentira o peso de ter de ser agradável, agradeceu e colocou uns óculos tipo máscara. Todas as vezes que passava por ela tentava desviar o olhar... mas era impossível. Ela era linda, e ali, a muitos mil metros de altitude senti-me apaixonado. A viagem terminou em Bali, desde que aterrámos, nunca mais a vi. Lembro-me que lhe deixara o meu email, disse com um sorriso:
- Obrigado, entrarei em contacto sempre que precisar de algo.
Saiu do avião, aquela dança de ancas deixou-me colado ao chão, até que ouvi:
- Está pronto para fazer o biefring?
Percorri o avião de forma decidida, à vinda deixei-me ficar sentado no lugar dela.
Uns seis meses mais tarde recebi um convite para conversar na internet, aceitei de imediato, reconhecera logo o nome. Após quase uma hora de conversa parva, mas de certa forma interessante convidei-a para um café na cidade onde nos conhecemos. Inicialmente declinou o convite, depois disse SIM em caps.
O tempo passou e finalmente cruzou-nos. Estava na mesa do canto com o meu bloco de notas azul de capa dura e os meus olhos inexplicavelmente ergueram-se para a ver chegar. Chegou num passo normal de fim-de-semana, com os seus longos cabelos soltos, os óculos apoiados na sua cabeça arredondada. Trazia uma saia lisa e um pólo muito feminino. Da forma mais natural possível levantei-me, dei um passo à frente e disse um expressivo olá. Sorriu para mim e disse:
- Olá! O que queres tomar?
- O mesmo que tu.
- Muito bem! Olhe por favor, são dois cafés, um com casca de limão.
Respirou profundamente e perguntou:
- E então, que tens feito?
- O mesmo de sempre, viajar por esse mundo fora.
- E esse coração? Voa também ou está enterrado nalgum lugar?
- Sinceramente? A última vez que o vi estava em Bali.
- É pena. Não queres lá voltar para o trazer?
- Porque não?
Lembro-me muito bem o que disseste:
- Mesmo que esse amor tenha nascido longe, quase do outro lado do mundo, não quer dizer que não o possas resgatar num segundo. Ainda bem que fiz aquela volta ao mundo, deu para perceber que ainda há pessoas que nos fazem voltar ao lugar de sempre, sentir o cheiro do mesmo mar, ouvir os mesmos sons do mar e ter o mundo aos pés num curto espaço de tempo.
Francisco Milheiro
5.12.2011
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