segunda-feira, 18 de junho de 2012

O estranho acordar de uma manhã

O despertador toca, tantas vezes sem avisar a sua natural investida matinal. Nessa manhã Elisa, de seu nome porque tal assim a quis chamar acordou estremunhada, da janela do seu quarto pouco via mas o quase nada que via era o suficiente para lhe causar um sorriso nos lábios e um brilho aveludado nos seus olhos castanhos. As horas vão passando e o sono regressa e Elisa volta ao seu pequeno mundo. No tecto, preso por ganchos de montanhismo está um balouço em forma de meia lua, Elisa permanece impávida e serena contando aproximadamente o seu balançar, senta-se nele e observa aquela luz forte no céu. Nessa noite Elisa lembra-se bem, era dia de uma nova. Colocou na aparelhagem um som de tal forma bonito que a fez sorrir e respirar devagar. Agora pouco ou nada lhe interessava, a não ser aquela luz e a canção que tocava. A sua forma de estar no mundo permitia-lhe duvidar que existissem más pessoas, maus momentos ou surpresas desagradáveis.

Elisa lembrara-se nesse momento da sua avó, partira na noite anterior mas tinha-lhe deixado um recado entre-linhas na última vez que estiveram juntas:

- Nunca duvides do amor que há na família. Não procures no tempo e no espaço perguntas às quais não saberia eu responder. Não duvides que no mundo haverá alguém que ama esse teu jeito desengonçado e ao teu nariz que tu dizes ser feio. Lembra-te de mim cada vez que olhares a lua e não te preocupes com nada, estarei a olhar por ti lá onde estiver...

Nessa noite, Elisa adormeceu com o pêndulo do balouço no tecto do seu quarto, a lua de feições enormes embalaram-na para um sono tranquilo e lá, bem ao lado da lua uma estrela brilhava. Recorreu ao livro de astronomia e ao mapa do céu que tinha na parede onde se encontrava a cama e tentou descobrir qual era. Reparara numa marcação a lápis azul...

- Ah! Já sei qual o teu nome...

Foi acordada pelos pais que tinham uma notícia para lhe dar mas Elisa, com a sua perspicácia apesar de tenra idade disse:

- Não precisam de me dizer nada. Já sei quem está ao lado da lua e a olhar para mim...

A mãe pouco ou nada soube dizer, o pai saiu do quarto, nele Elisa permaneceu deitada no balouço em forma de meia-lua à espera que a noite chegasse e voltasse a ver a avó, agora de forma diferente mas com a garantia que seria para sempre. Da gaveta tirou um velho passpartout e nele uma foto com quase quinze anos, uma bebé ao colo de uma senhora distinta. A mãe, ao ver aquela fotografia emocionou-se ainda mais porque percebeu a ligação especial entre ambas.

O dia acordou cinzento mas o céu ficou mais azul da parte da tarde. Elisa levantara-se do balouço, sorriu para o infinito a pensar "Espero que tenhas chegado bem e já sei que vais estar bem para sempre...". Deu um beijo na fotografia e adormeceu, acordou com o brilhar forte da lua naquele quarto onde pouco ou nada conseguia ver, mas aquela bola branca arredondada era o que precisava para acordar feliz todos os dias que se seguiriam até voltar a encontrar.... a mulher agora em formato de uma estrela...


In "Reflexus"
Francisco Milheiro
Junho 2012

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