terça-feira, 26 de junho de 2012

Penas no Brasil descem....

O Estado Brasileiro mostra-se extremamente preocupado com o número de cidadãos da cidade maravilhosa - e não só - de permanecerem anos a ver o sol aos quadradinhos, para que isso não aconteça decidiu fazer a seguinte proposta aos reclusos: por cada livro que lerem vêm reduzida a pena em 4 dias. Ora, a ser verdade, pessoas como o Duarte Lima ou o famoso homem que matou os quatro portugueses e os enterrou debaixo do cimento numa praia a sul de Fortaleza vão fazer vários pedidos nos próximos tempos. Duarte Lima goza de uma liberdade condicional em Portugal e não está nos planos dele regressar ao Brasil. A lei é tão boa que o arguido pode recusar cumprir a pena se permanecer no seu país de origem. 

Mas voltando à notícia que me trouxe aqui: a redução das penas - os responsáveis das prisões brasileiras querem apenas que os presos saiam no final das penas com uma visão mais alargada do mundo. Dizem que ler faz viajar e é isso que eles querem enquanto permanecem anos e anos nas celas e corredores frios. 

Podemos trazer o mesmo para Portugal? Pessoas como Carlos Silvino também agradeceriam só que não está previsto haver na prisão livros sobre pedofilia ou histórias de encantar jovens adultos. 

É caso para dizer: quantas mais palavras por dia conseguires ler mais cedo vens embora. Com uma vantagem: vens um ex-recluso mas muito culto! 


Francisco Milheiro 
Junho 2012 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Lugares comuns

Soam banais todas e quaisquer palavras que escreve agora, desta vez em linhas tortas. Serão elas tortas desde nascença ou a minha ínfima vontade de baixar a cabeça e deitá-la sobre o ombro me fazem crer que o mundo está ao contrário? Sinto-me cansado de escrever sobre lugares comuns, sobre os afectos que afectam cada vez mais o mundo, sinto a vontade de subir no lugar mais alto do mundo mas sentir nas pernas a dificuldade, chegar lá cima tirar todas as fotografias que a máquina me deixasse. 

Sinto vontade de fugir de lugares comuns, que o meu cão volte a ter a idade bebé, que o possa abraçar, lhe dar beijos e amassos na hora de dormir. Sento-me agora, ergo a cabeça de forma decidida com vontade de a manter assim - VIVA! Hoje sinto falta de lugares incomuns, jardins de inverno em que o barulho dos pássaros e o virar das folhas de um bom livro me fazem sonhar. Sim, hoje quero sonhar com lugares incomuns e já agora, viajar por eles. Não quero que o tempo se esgote em mim mas também não quero esgotar o tempo e fazer nele coisas comuns, dizer palavras banais e escrever de forma aparvalhadamente apaixonada. 

Quero escrever isso sim, sobre lugares incomuns, pelo menos para mim. Não quero deixar que as pequenas pedras me derrubem, nem sequer tenciono pedir desculpa por aquilo que não fiz. Quero subir no lugar mais alto do mundo e soltar um sorriso feliz. Quero ser o que não fui, quero ter o que não tive. Quero que o mundo se torne mais bonito, que cada esquina tenha a sua sombra e que não tenha medo do que está do outro lado. Quero poder fotografar à vontade os lugares comuns, talvez consiga fazer deles aquilo que quero fazer para mim. Construir à vontade um lugar onde me possa perder no jardim, escolher um bom livro, escrever palavras com sentido, ver o meu cão correr livremente. 

Hoje sinto falta de tudo, até de ver gente. Hoje talvez não seja aquele quem queriam que fosse, talvez as palavras me fujam para que corra atrás e seja feliz... num lugar comum: o mundo! Se foi nele que nasci e por ele percorri espero que me dê um lugar onde possa sentir o que sou, independentemente dos lugares comuns em redor, farei dele um lugar especial


Desabafos diários,
Francisco Milheiro 
Junho 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O estranho acordar de uma manhã

O despertador toca, tantas vezes sem avisar a sua natural investida matinal. Nessa manhã Elisa, de seu nome porque tal assim a quis chamar acordou estremunhada, da janela do seu quarto pouco via mas o quase nada que via era o suficiente para lhe causar um sorriso nos lábios e um brilho aveludado nos seus olhos castanhos. As horas vão passando e o sono regressa e Elisa volta ao seu pequeno mundo. No tecto, preso por ganchos de montanhismo está um balouço em forma de meia lua, Elisa permanece impávida e serena contando aproximadamente o seu balançar, senta-se nele e observa aquela luz forte no céu. Nessa noite Elisa lembra-se bem, era dia de uma nova. Colocou na aparelhagem um som de tal forma bonito que a fez sorrir e respirar devagar. Agora pouco ou nada lhe interessava, a não ser aquela luz e a canção que tocava. A sua forma de estar no mundo permitia-lhe duvidar que existissem más pessoas, maus momentos ou surpresas desagradáveis.

Elisa lembrara-se nesse momento da sua avó, partira na noite anterior mas tinha-lhe deixado um recado entre-linhas na última vez que estiveram juntas:

- Nunca duvides do amor que há na família. Não procures no tempo e no espaço perguntas às quais não saberia eu responder. Não duvides que no mundo haverá alguém que ama esse teu jeito desengonçado e ao teu nariz que tu dizes ser feio. Lembra-te de mim cada vez que olhares a lua e não te preocupes com nada, estarei a olhar por ti lá onde estiver...

Nessa noite, Elisa adormeceu com o pêndulo do balouço no tecto do seu quarto, a lua de feições enormes embalaram-na para um sono tranquilo e lá, bem ao lado da lua uma estrela brilhava. Recorreu ao livro de astronomia e ao mapa do céu que tinha na parede onde se encontrava a cama e tentou descobrir qual era. Reparara numa marcação a lápis azul...

- Ah! Já sei qual o teu nome...

Foi acordada pelos pais que tinham uma notícia para lhe dar mas Elisa, com a sua perspicácia apesar de tenra idade disse:

- Não precisam de me dizer nada. Já sei quem está ao lado da lua e a olhar para mim...

A mãe pouco ou nada soube dizer, o pai saiu do quarto, nele Elisa permaneceu deitada no balouço em forma de meia-lua à espera que a noite chegasse e voltasse a ver a avó, agora de forma diferente mas com a garantia que seria para sempre. Da gaveta tirou um velho passpartout e nele uma foto com quase quinze anos, uma bebé ao colo de uma senhora distinta. A mãe, ao ver aquela fotografia emocionou-se ainda mais porque percebeu a ligação especial entre ambas.

O dia acordou cinzento mas o céu ficou mais azul da parte da tarde. Elisa levantara-se do balouço, sorriu para o infinito a pensar "Espero que tenhas chegado bem e já sei que vais estar bem para sempre...". Deu um beijo na fotografia e adormeceu, acordou com o brilhar forte da lua naquele quarto onde pouco ou nada conseguia ver, mas aquela bola branca arredondada era o que precisava para acordar feliz todos os dias que se seguiriam até voltar a encontrar.... a mulher agora em formato de uma estrela...


In "Reflexus"
Francisco Milheiro
Junho 2012