segunda-feira, 7 de maio de 2012

Carta ao entardecer

Meu Amor, Sei que já me esqueceste, mas ainda assim gostava de te relembrar o quanto foste importante para mim. Meu Amor, eu sei que o tempo não perdoa, as horas passam e não voltam sequer atrás, eu sei que o teu interesse por mim esvaneceu, esmureceu como aquela noite que surgiu com tempestades sem aviso prévio. O meu amor foi crescendo mas o teu coração não era mais do que um lugar reservado e ocupado por alguém que não eu. Nesta praia vou caminhando e chorando as lágrimas que teimei, por ser homem, em não chorar à tua frente. As vezes em que precisei de te pedir desculpa não tive coragem, as vezes que errei não foram suficientes para aprender a lição. O tempo foi passando, e o meu lugar foi ficando… guardado noutro lugar que não o teu coração. O sol está-se a pôr na praia em que passeámos diversas vezes, em que nos deixámos ficar para lá da hora marcada, momentos esses sempre interrompidos pelo barulho das ondas nas rochas que ficavam firmes aos nossos pés. O cheiro do teu cabelo ainda o reconheço, o teu rosto peço… para tocar e nunca mais o largar. Falámos vezes sem conta sobre a formula mágica de guardarmos os momentos e de nos recriarmos para sempre mas o tempo, mais uma vez, se encarregou de fazer o contrário. Hoje, sei que não me reconheces, já nem sequer sabes o meu número, sou apenas mais um da tua lista telefónica, que sei, ainda está ao lado do piano da tua sala. Sabes, meu Amor? No outro dia sonhei contigo. Sonhei com o tempo em que éramos um todo, o ar de jovens apaixonados estava estampado nos nossos rostos, a cada manhã olhava o espelho e nele via reflectido o teu. Era sinal de amor verdadeiro, de amor sem interesses, apenas no bem que fazíamos mutuamente. As horas vão passando, não voltam a repetir-se aquelas saídas nocturnas só para te dar um beijo de boa noite, que acabavam sempre com a mesma frase: - É por estas maluquices que te amo cada vez mais! Foi por ti que deixei de dormir para poder escrever meu Amor, esta e outras cartas que não chegaste a ler. Sei que agora estás sentada na tua cadeira, feita poltrona com os pés assentes num pequeno banco de apoio e durante o dia estás virada para o mar… O tal em que mergulhavas comigo, dizendo: - Se esta onda for a última que o mar tenha força para criar quero que ela nos atinja com a sua força e dê uma nova alma para este amor não acabar. Foram tantas as vezes em que olhavas para mim, tu no mar e eu sentado na areia, e com um sorriso dizias: - Meu amor, a água está óptima. Deixa-me partilhar este momento contigo! Nunca resisti a uma chamada tua, ficava sempre nervoso quando entrava mas sabia que estaria nos teus braços para nunca mais te largar… Fizeste-me, sem culpa, acreditar num amor verdadeiro, único e real, aqueles que só acontecem nos filmes, mas a nossa vida era, infelizmente vida! Estou aqui a escrever à beira-mar e estou a imaginar-te ler esta carta, com um leve sorriso no rosto de menina (que ainda sei que preservas) e uma furtiva lágrima porque conseguiste por momentos, relembrares quem foste. Eu ainda sei quem sou, mas tu infelizmente, já não te reconheces nem ao espelho. Os anos foram passando e a natureza humana (cruel) fizeram-te refém num corpo de mulher de idade. Se este for o meu último dia na terra, quero que saibas, vou feliz, porque consegui por momentos recordar o passado em que fui feliz e a pessoa que sempre quis… esteve comigo, naquela praia, naquelas rochas, naquele oceano, naquela vida. Hoje talvez te escreva para dizer Adeus ou até breve, sei que nos vamos voltar a ver e que nesse dia vais sorrir porque me vais reconhecer. Vais voltar a sentar-te ao piano, passearás comigo numa outra praia, mas com o mesmo sorriso e a mesma vontade: Estar para viver… Recordar para não mais esquecer! Francisco Milheiro 12 de Junho 2011

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