quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A alma do Porto

Quem desce Gaia, com os olhos ainda presos à bonomia sólida e às vezes idílica dos subúrbios, ao seu mau gosto urbano e à sua vida comercial em que se nota uma familiaridade de província com o seu sabor de horta com glicínias e água do poço, quem traz ainda consigo essa indiferença que as coisas felizes nos provocam, suspende-se de repente ao encontrar a face da cidade. Está ela como que inclinada numa cordilheira, com o ar cativo, as faixas das ruas parecendo pendentes do casario desigual".

A luz é doce sobre os telhados de um vermelho estagnado; paredes de folha ferrugenta, cores de cimentos sujos e os verdes húmidos dos socalcos onde outrora se talhavam talvez as vinhas, compõem uma expressão de profunda simpatia moral. Há naquela velhice de bairros cruzados e lôbregos, naqueles edifícios presidiais, uma paixão e um selo de resistência. Os casaréus ribeirinhos cobrem - se de trapos que flutuam, há sobre a margem grandes lonas de cargueiros estendidas a secar; uma canhoneira prateada está ancorada como que à sombra das árvores da marginal..."

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