segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Um dia no Alentejo

... Um dia, no Alentejo, gostei de estar vivo, acordei com um sorriso a sair-me pela cara, era uma coisa estranha, analogia que faço de um parto, e o nascido a sorrir-me contínuo na cara, levantei-me da cama, eu e ele, era um tumor de janela, daqueles que nos empurram para a vida, oferecem-te um relógio sem dígitos, nem ponteiros, e tu sorris para dentro desse tempo, com os olhos de alguém que acabou de nascer em ti.

Ofereces as tuas mãos e lavas-lhe a cara, os dentes, a barba, e as outras coisas que devagar continuam todos os dias... Um dia no Alentejo, gostei de saber que vinham para almoçar, cozinhei tão devagar como as outras coisas, um arroz de tamboril com gambas, pus no muito frio o vinho branco, cerveja para quando chegassem, amor a rodos da casa.

Não digo o nome deles, porque para mim nunca terão um nome que os torne mais amados por mim, amor a rodos na casa, sobre as cadeiras, sobre a mesa, água nas torneiras. Um dia, no Alentejo, jurámos estar no funeral uns dos outros, arroz de tamboril com gambas, vinho branco no muito frio, um abraço e um beijo na boca de um homem, na de uma mulher, um beijo na boca de um peixe, um beijo..."


De Miguel Patrício!

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